Ally e Ryan

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Laércio Sant'Anna - entrevista - parte 2

Laércio em seu local de trabalho, com camisa branca e utilizando seus equipamentos de produção

BLOG - Laércio, falando um pouco agora sobre sua movimentação urbana. As pessoas com deficiência visual, cegos ou pessoas de baixa visão, afirmam que suas relações com as cidades são bastante complicadas, visto que, os perigos urbanos são geralmente identificados com o sentido da visão. Considerando essas premissas, conte-nos como você circula em São Paulo, que cuidados você toma ao fazer uma travessia e como as pessoas com deficiência visual identificam os perigos existentes no espaço urbano?

Laércio. – Realmente é uma aventura. Eu só uso a bengala para me orientar. Procuro andar atento e lentamente. São inúmeros os obstáculos que poderiam não existir. Floreiras, lixeiras, postes de ferro no meio da calçada, reformas em calçadas sem qualquer proteção, orelhões dentre outros, são comumente encontrados, e não há nada que possamos fazer para nos defender, a não ser andar cuidadosamente, explorando cada centímetro por onde estamos andando. É realmente muito estressante.

Nas travessias, normalmente aparecem pessoas solícitas para dar uma ajuda, nem sempre adequada. Não por falta de vontade, mas por desconhecimento.


Comentário – a resposta do Laércio vai de encontro ao que pretendemos adotar no CETET, orientando as crianças e adultos a perceberem que a cidade não se apresenta favorável a todas as pessoas. Por isso que é fundamental o educador agir como facilitador desse conhecimento. Se a ajuda não é adequada por desconhecimento do cidadão, cabe a educação de trânsito responder a essa demanda.

BLOG - Se alguém quiser ajudar uma pessoa com deficiência visual a efetuar uma travessia, como deve proceder?

Laércio – A 1ª coisa a fazer é perguntar se realmente a pessoa cega precisa e quer ajuda. Caso aceite, deixe que ela segure em seu cotovelo. Ande normalmente e nunca a deixe a meio do caminho.

BLOG - Na empresa em que você trabalha como é o seu relacionamento com as pessoas sem deficiência?

Laércio – A Prodam foi criada em 1971 e, desde 1973 contratas pessoas com deficiência. Por isso, o convívio com pessoas cegas é algo muito natural em suas dependências. Desse modo, o relacionamento é muito tranqüilo, reforçando ainda mais o meu pensamento de que, o melhor remédio para a sociedade aceitar bem as pessoas com deficiência é a convivência. Quanto mais as pessoas tiverem condições de ir para as ruas, cinemas, teatros, eventos dentre outras atividades, maior será sua visibilidade, e maior será sua interação com quem não tem deficiência, que aprenderá, de maneira natural, a se relacionar bem com quem tem alguma deficiência, aprendendo inclusive qual a melhor maneira de ajudar e interagir.

BLOG - Autonomia e independência são valores que as pessoas com deficiência vem conquistando ao longo do processo de inclusão, nesse sentido, como você adquiriu sua autonomia e independência?

Laércio – Sou privilegiado por ter tido oportunidade de estudar. Graças ao estudo consegui me empregar bem. Como tive apoio familiar, sempre tive boa auto-estima e confiança. Isso é tudo o que um ser humano, independentemente de ter ou não alguma deficiência, precisa para buscar autonomia e independência. Todo o mais será uma consequência.

Comentário – A educação escolar é a ponte para a pessoa com deficiência sair do processo de exclusão. A resposta do Laércio vem reforçar essa premissa.

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